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Mostrando postagens de novembro, 2017

O PULO

Já era tarde da noite quando o último guarda fechou com chave os portões do corredor. Ao fundo, no canto esquerdo, a respiração sobressaltada da cela 42 começava a irritar os demais. ‘Cale a boca, seu verme’, gritou um, ‘se for para morrer, que morra quieto’, disse outro. O silêncio foi chegando, as luzes se apagando uma a uma. No fim do ritual, as oito celas daquele corredor encontravam-se escuras e se via apenas a luz da lua – azul e prateada – iluminando o chão de pedra. O lugar todo era feito de pedra, com arcos redondos nas portas das celas, fugindo do aspecto reto e quadrado das outras prisões. Mais de uma vez o prisioneiro da cela 42 desejou que o punhado de pedra acima de sua cabeça desmoronasse sobre ele. Quando tudo se apagou houve ainda tosses, resmungos e cusparadas. Presos se ajeitavam, entregando-se sem resistir a mais uma noite de confinamento. Exceto um. Havia naquele momento alguém com a cabeça fervilhando, alguém que tramava algo, alguém que respirava pesado