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SOBRE: NYC - Parte I

Na minha segunda ida para NYC a agenda estava apertada - poucos dias para muitas coisas. 
Como um todo a viagem foi inesquecível, os passeios, a companhia, as corridas e os imprevistos. Eu e meu namorado vivemos como se o mundo fosse acabar e a gente não fosse dar conta de ver tudo. O mundo não acabou (Graças a Deus) e demos conta, mas as pernas pagaram o preço.

Mesmo com poucos dias essa viagem tinha um foco. Três, mais precisamente. Minha viagem foi motivada por três coisas que só essa cidade no mundo inteiro poderia proporcionar para uma maluca do teatro como eu (e outro maluco que é meu namorado): Fun Home, Hamilton e Sleep No More. Então para não esquecer:


One - Welcome to Fun Home

Fun Home é um musical que está em cartaz na Broadway e ganhou o Tony de Melhor Musical esse ano. Mas para mim é um projetinho que eu passei um tempão acompanhando - e caçando, revirando, vasculhando - via internet desde o início. Um projeto quase meu de tanto apego.
A história é uma adaptação feita por duas mulheres maravilhosas chamadas Lisa Kron e Jeanine Tesori, do livro Fun Home da também maravilhosa cartunista Alison Bechdel.

No livro a Alison conta sobre a sua infância vivendo em uma casa funerária (negócio de família), a descoberta de sua homosexualidade e como essa descoberta desencadeou uma série de acontecimentos bizarros, tais como: descobrir que seu pai também era gay e ele morrer atropelado por um caminhão deixando a dúvida se foi um acidente ou suicídio (Alison e a família acreditam na segunda opção). Ouch!
O livro é muito emocionante, são conflitos complexos e tão pessoais expostos com muita delicadeza em forma de quadrinhos. Vale a leitura.

Vale a leitura mas ninguém achou que valeria um musical. Mas vale.
A adaptação demorou cerca de cinco anos para ficar pronta e chegou inovando na forma de fazer um musical da Broadway (opinião de quem entende,  eu , os críticos).
O palco é circular e as coisas aparecem e desaparecem na medida em que são lembradas. Não há número de abertura performático e impactante, há pouquíssima mobília e pouquíssimo jogo de luz. São nove atores no total, sendo que a Alison é representada por três atrizes diferentes em três momentos diferentes da vida, todas igualmente talentosas (e todas indicadas ao Tony por suas performances). Você acompanha de perto (de perto mesmo, meus pés estavam no palco) o processo da Alison revisitando as memórias para escrever seu livro. 

As músicas são ótimas (ganharam o Tony!), ora engraçadas, ora tristes, ora engraçadas, tristes, tocantes, dançantes, tudo ao mesmo tempo nesse caos organizado que acontece no palco. Vale a pena ouvir, está disponível no Spotify.

Fun Home conta a história de um pai problemático e reprimido que se suicidou e uma filha que busca a conexão perdida com o pai ao longo da vida, mas mesmo com toda essa carga emocional você se diverte na maior parte do tempo. Juro, é engraçado. A Alison Bechdel tem um senso de humor muito peculiar e a as autoras conseguiram levar isso para o palco.

Essa peça é uma daquelas coisas que tinha tudo para não dar certo mas dá, não tinha nada para ser um musical mas é, não tem nada demais, mas tem muito.
Em Fun Home menos é mais.



O musical teve 12 indicações e ganhou 5 Tonys: Best Musical, Best Book of a Musical, Best Original Score, Best Leading Actor, Best Direction of a Musical.


Agora momento Thamiresco:

Eu pensei que fosse ter um treco no teatro quando entrei e vi que meus pés estavam no palco. Eu vi aqueles atores que eu acompanhei por tanto tempo na internet cantando as musicas que eu sabia de cor na minha frente. Eu fiquei vidrada, emocionada, feliz e triste. Aproveitei cada momento em que as luzes estiveram apagadas e a história estava sendo contada ali na minha frente, e depois aproveitei as fotos, os autógrafos e a conversa fora do teatro.

Foi muito melhor do que eu esperava, muito mais bonito. Terminei de coração leve, mas com um gostinho doce e amargo por ser lembrada de como a vida é mesmo uma coisa complexa de se entender.


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