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SOBRE: NYC PARTE II

Primeiro de tudo:

Passei quase dez dias tentando escrever este post. Nenhuma ideia que eu tinha para o texto me agradava,não conseguia organizar as informações, as impressões e me acalmar para escrever um texto digno de Hamilton, o musical que motivou a minha ida para Nova York.

Daí eu decidi abrir mão e partir do princípio de que eu como leiga não saberia escrever sobre Hamilton, então se por acaso você se interessar sobre o que eu vou falar dá um google para ver do que se trata com mais clareza e leia as críticas - todas ótimas - sobre o espetáculo do momento.

Agora prepare-se porque vai ser um longo post:

What's your name man?
ALEXANDER HAMILTON!

Um belo dia o gênio Lin-Manuel Miranda, um jovem ator/cantor/compositor/letrista/etc da Broadway foi convidado para se apresentar para Obama e convidados na Casa Branca. Seu último musical, In the Heights, era um sucesso e todos esperavam que ele cantasse algo do espetáculo, porém, Lin-Manuel teve uma ideia melhor e pediu para cantar algo em que ele estava trabalhando nos últimos tempos e teria tudo a ver com a ocasião: um musical sobre Alexander Hamilton. 

PAUSA:
Alexander Hamilton foi um dos founding fathers e o primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Um visionário, ele revolucionou - e fundamentou - a economia americana. Também foi ele que fundou o primeiro Banco dos Estados Unidos (First Bank of The United States) e escreveu 51 dos 85 artigos chamados Federalist Papers, que propunham reformas na constituição. Fora isso ainda lutou em algumas guerras, entre elas a Revolução Americana. 
O cara teve uma vida intensa: nasceu no Caribe e ainda jovem foi abandonado pelo pai, a mãe morreu, o tio com quem ele foi morar se matou e sua cidade foi atingida por um furação. Quando jovem conseguiu ir para Nova York, estudar e se tornar um dos homens mais influentes da época. 
Conviveu com alguns escândalos, vários inimigos e terminou com uma bala entre as costelas. 

Se você, assim como eu, nunca tinha escutado falar desse cara não se espante, a história dele é mesmo "esquecida" e o musical fala disso também. Agora surpreenda-se porque você já deve ter visto Hamilton alguma vez na vida:




VOLTANDO
Um musical sobre Alexander Hamilton? Isso, mas não só isso. Um musical sobre Alexander Hamilton com rap. Isso mesmo. RAP. Olha:



E então foram sete anos de trabalho. Lin-Manuel escreveu a música, a história e as letras, e Hamilton the Musical estreou na Broadway esse ano direto para o topo dos mais vendidos. "O mais comentado", "o mais bem cotado", "o inovador"... e lá se foi a Thami para ver com os próprios olhos.

Imagine você uma história que se passa em torno de 1776 a 1804, um palco com o cenário que lembra uma estalagem, todo trabalhado em vigas de madeira e todos os atores com figurino de época. Imaginou? Agora imagine que quando eles cantam, soa assim:



Parece piada se você lê sem ver, mas as referencias dele são os monstros do rap e do hip-hop, números de musicais clássicos, séries de TV como Parks and Recreation e cantoras como Beyonce e o grupo Destiny's Child. E funciona, as músicas são incríveis, uma melhor que a outra. 
A senhorinha que estava do meu lado, a cada pouco soltava um "Good Lord!", e é basicamente isso que você diz, seguido de vários palavrões que representam espanto. 
Dica: o album está disponível no Spotify!

Mas não são só as músicas que fazem o musical ser tão bom, a iluminação é um show a parte e a narrativa é incrível. Contada por quem passou pela história de Hamilton, o principal narrador é ninguém menos do que Aaron Burr, vulgo o cara que o matou em um duelo. As disputadas do Congresso, por exemplo, são apresentadas como batalhas de rap. No meio do primeiro ato há uma música em que a personagem faz um rewind, recapitulando tudo que ela pensou enquanto uma determinada cena se passava. Há momentos de tensão, romance e dor que só vendo para entender (aqui entra o que eu disse sobre ser leiga e não conseguir encontrar palavras).
Eu, essa manteiga derretida, fiquei profundamente emocionada com a delicadeza com a qual ele trabalha temas tão difíceis quanto o perdão e a morte de um filho. Eu não esperava que fosse chorar, mas saí do teatro e desci todas as escadas assim:



E a velhinha (Good Lord!) passou a mão no meu braço e disse "Emocionada né?", "Eu também."

E você sai sem processar muito bem o que tá acontecendo, sabendo que viu uma coisa muito importante. Hamilton está com ingressos esgotados e estão sendo vendidos ingressos para junho de 2016. Dizem que ele quebrou as barreiras do que pode ser feito em um musical e vai se tornar um marco na Broadway.

Eu sei que daqui muito tempo quando disserem "Lembra quando Hamilton estreou?" eu vou poder dizer, "lembro, eu estava lá." E para mim isso já basta.

Update 1: o musical se tornou o mais difícil de se conseguir ingressos da história da Broadway. Não tem ingresso nunca mais.

Update 2: Lin-Manuel Miranda ganhou o Prêmio Pulitzer de Drama.


EXTRAS:
O musical é um MEGA sucesso lá, a loteria (quando você se inscreve para tentar ganhar/comprar um ingresso) toma conta da rua toda na frente do teatro.


Lin-Manuel (inspirado em RENT) te dá a chance de ganhar ingressos para assistir o espetáculo dele NA PRIMEIRA FILA, por DEZ DÓLARES, afinal o Hamilton está lá.

Quão legal é esse cara? Muito legal, vai vendo.

Todos os dias em que há duas sessões Lin-Manuel faz um mini-show (chamado de Ham4Ham) de 5 minutos para quem está esperando na fila da loteria, assim caso a pessoa não ganhe o ingresso ela terá visto alguma coisa especial. Agora essa semana o album foi lançado online e ele liberou todo o encarte com todas as letras e artes para download. Juro. Se não fosse isso eu só teria esse album sabe lá Deus quando, será que ele sabe quanto tá o dólar aqui?



Daqui do Brasil nós, eu e meu namorado, acompanhamos cada movimento dele há algum tempo. Ele é um ídolo nosso, uma inspiração, daqueles que você morre de vontade de ser amigo. Então talvez você pode imaginar o que significa essa sequência aqui embaixo.





Dá para ser melhor? Dá.






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